Contos Zen Budistas: 79. Kito



Um dia, Um velho foi visitar mestre Ryokan e disse-lhe: - Eu quisera pedir-vos que fizésseis um kito [Cerimonia para cumprimento de uma promessa] em minha intenção. Assisti à morte de muita gente ao meu redor. E também deverei morrer um dia. Portanto, por favor, fazei um kito para eu viver por muito tempo. - De acordo. Fazer um kito para viver muito tempo não é difícil. Quantos anos tendes? - Apenas oitenta. - Ainda sois jovem. Diz um provérbio japonês que até os cinqüenta anos somos como crianças e que, entre os setenta e os oitenta, precisamos amar. - Concordo, fazei-me então um bom kito! - Até que idade quereis viver? - Para mim, acho que basta-me viver até os cem. - Vosso desejo, na verdade, não é muito grande. Para chegar aos cem anos, só vos resta viver mais vinte. Não é um período tão longo assim. E sendo o meu kito muito exato, morrereis exatamente aos cem anos. O velho ficou com medo: - Não, não! Fazei que eu viva cento e cinqüenta anos! - Atualmente, tendo atingido os oitenta, já viveste mais da metade do prazo que desejais. A escalada de uma montanha exige grande soma de esforços e tempo, mas a descida é rápida. A partir de agora, vossos derradeiros setenta anos passarão como um sonho. - Nesse caso, dai-me até trezentos anos! Ryokan respondeu: - Como o vosso desejo é pequeno! Somente trezentos anos! Diz um provérbio antigo que os grous vivem mais de mil anos e as tartarugas dez mil. Se animais podem viver tanto assim, como é que vós, um homem , desejais viver apenas trezentos anos! - Tudo isso é muito difícil...- tornou o velho, confuso. - Para quantos anos de vida podeis fazer-me um kito? - Quer dizer, então, que não quereis morrer! Eis aí uma atitude de todo em todo egoísta... - replicou o mestre. - Bem, tem razão....- respondeu o ancião, constrangido. - Assim sendo, o melhor é fazer um kito para não morrer. - Sim, é claro! E pode ser? Esse é o kito que eu quero! - o velho animou-se bastante. - É muito caro, muito, muito caro, e leva muito tempo... - Não faz mal. - concordou o velho. Ajuntou, então, Ryokan: - Começaremos hoje cantando apenas o Makka Hannya Shingyo; a seguir, todos os dias, vireis fazer zazen no templo. Pronunciarei, então, conferências em vossa intenção. Dessa maneira, de uma forma suave e indireta, Ryokan fez o velho homem deixar de se preocupar com o dia de sua morte e o conduziu ao Dharma. 

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